Monday, April 9, 2012

Breve história III - O escritor

Sentou-se e escreveu.

Escreveu com pressa, com vontade, com angústia, com raiva. Escreveu linhas a fio contando uma história que era sua. Precisava de por no papel aquilo que era demasiado pesado para carregar nas costas. Questionou-se se todos os escritores escreverão assim, por necessidade de tirar do peito tudo aquilo que está a mais. Não. Não podia ser assim. Caso contrário, todas as histórias seriam amargas. E há histórias doces.

Pois, não era escritor, e não escrevia uma história. Queria ser músico e por nas músicas as suas emoções, as boas e as más. Iria compor com palavras e notas para que o vento as levasse a quem as quisesse ouvir. Quem comunica assim nunca há-de estar sozinho.

Mas não. Não tinha jeito para escrever e menos ainda para a música. Era bom nas contas, diziam-lhe. Então fez contas. Escreveu contas em papel, erradas... todas. Achava que as contas certas eram um elogio à harmonia do universo. As contas erradas haveriam então de funcionar como insulto. E hoje, quis insultar o mundo. Não por ingratidão, mas para lhe captar a atenção, como um pedido de ajuda. Queria que o universo entendesse que algo estava errado e precisava de ser consertado, porque as coisas erradas são mais pesadas.

Então sentou-se e escreveu.
Sentou-se e escreveu contas erradas.

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